É impossível
falarmos de De Leonismo sem falarmos sobre o Socialist Labor Party of America
(SLP)(Partido Trabalhista Socialista da América), e de Socialist Industrial
Unionism (Sindicalismo Industrial Revolucionário), uma espécie de sindicalismo
que está no centro do programa e teoria De Leonista.
Daniel De Leon
nasceu em Curaçau, em 1852, fez faculdade na Alemanha e logo depois se mudou
para Nova York, aonde continuou seus estudos em direito. Logo após, foi dar
aulas na Columbia University, quando virou militante do SLP.
O SLP foi criado
em 1877 primariamente em conjunto com a primeira internacional. Quando De Leon
entrou em 1890, o partido possuía um grande número de Alemães, e muitas
propagandas foram feitas na língua Alemã. De Leon logo foi eleito editor do
jornal do partido, The People.
O Que é De
Leonismo?
De Leonismo é
uma linha de pensamento Marxista que chama os trabalhadores para se organizarem
para colocar a economia sob controle democrático, utilizando um sindicato e um
partido revolucionários.
De Leonistas
veem as campanhas eleitorais como uma oportunidade para expor os maus de uma
sociedade dividida por classes, e mobilizar a classe dos trabalhadores para
organizar o "Socialist Industrial Union” (Sindicato Industrial
Socialista), um grande sindicato para abranger a economia inteira, e integrar e
unir toda a classe dos trabalhadores, para criar, enfim, uma organização para
habilitar e possibilitar os trabalhadores a manejar a economia
democraticamente. Uma organização em qual todos os representantes vão ser
eleitos ou retirados pelos eleitores se for necessário. Todos os representantes
vão ser eleitos começando com cada capataz ou gerente em cada fábrica ou
escritório, e assim para representantes em cada nível até o maís alto, o
conselho de todas as indústrias nacionais.
A meta política
final para De Leon é capturar o estado capitalista para aboli-lo, e passar toda
a autoridade para o "Socialist Industrial Union". Consequentemente, a
organização industrial tem que crescer junto com o movimento político. A
organização industrial, o sindicato revolucionário, vai lutar para os direitos
dos trabalhadores enquanto o capitalismo existe, mas na hora da revolução, vai
virar o símbolo de autoridade, planejamento, e produção da nova sociedade sem
classes.
De Leon falou em
um discurso em Minneapolis em 1905, depois publicado sob o título, The
Socialist Reconstruction of Society,
"Sem
organização política, o movimento trabalhista não pode chegar na hora do seu
triunfo; e sem organização econômica, o dia do seu triunfo será o dia da sua
derrota. Sem organização econômica, o movimento vai atrair e criar o político
comum, quem vai debochar e se vender, traindo os trabalhadores, e sem
organização política, vai atrair e criar o agente provocante quem irá assassinar
o movimento."
Uma programa
criado na luta
O programa de
"Socialist Industrial Unionism" foi a resultado do trabalho de De
Leon e seus companheiros dentro dos sindicatos e iluminado pelos princípios
elaborado por Karl Marx. Primeiro foi dentro de uma organização trabalhista,
“Os Cavalheiros de Trabalho”. Os esforços de De Leon e seus companheiros para
criar uma postura de luta de classe, rachou a organização, e resultou na
formação do "Socialist Trade and Labor Alliance" (Aliança Socialista
de Troca e Trabalho), um sindicato que se plantou firmemente na luta das
classes.
Na sua
Declaração de Princípios, adotado em 1895, foi escrito, "É como uma
classe, consciente dos seus direitos, determinada para resistir, jurada para
ganhar sua emancipação. Os trabalhadores assalariados são agora chamados para
unir-se em um corpo sólido, segurado juntos por um espírito de solidariedade
sob as condições mais difíceis da atual luta de classes. Como membros do
Socialist Trade and Labor Alliance dos Estados Unidos e Canadá, vamos
constantemente manter nosso gol em vista, nominalmente, o fim imediato dessa
luta bárbara, o mais cedo possível. E lutar pela abolição de classes, a
restauração da terra e todos os meios de produção, distribuição para o povo
como um corpo coletivo, e a substituição da Comunidade Cooperativa, para o
atual estado de produção sem plano, guerra industrial, e caos social. Uma
comunidade cooperativa em qual cada trabalhador vai ter exercício livre e pleno
benefício das suas faculdades, multiplicado por todos os fatores modernos de
civilização."
Então De Leon e
seus companheiros conseguiram criar um pequeno exemplar de um sindicato
revolucionário, mas a maioria dos sindicatos eram conservadores, e pregavam a
conciliação de classes, tentando esconder a realidade da luta de classes. De
Leon e seus companheiros tinham muitas críticas desse tipo de sindicalismo.
O ST&LA
chegou na faixa de 15000 membros, principalmente em Nova York redondezas.
Em 1905 a
organização mandou uma delegação para uma reunião em Chicago para reunir com
delegações de 50 sindicatos para negociar a criação de um novo sindicato. Nesse
reunião nasceu a "Industrial Workers of
the World"
Muitas figuras
importantes nos movimentos socialista, anarquista, e sindicalista estiveram
presentes. De Leon participou com a delegação do Socialist Trade and Labor
Alliance. Eugene Debs, uma figura importante no Partido Socialista estava lá
representando o American Railway Union. Mary Jones estava lá representando o
United Mine Workers, e William Haywood também foi presente representando o
Western Federation of Miners. Foram uns 200 representantes de umas 50
organizações.
Foi William
Haywood que abriu a convenção com essas palavras poderosas: “Nós somos o Congresso Continental da classe
dos trabalhadores. Nós estamos aqui para montar uma organização que vai ter de
sua meta, a emancipação da classe dos trabalhadores da escravidão
capitalista...O objetivo desta organização deve ser colocar a classe dos
trabalhadores em posse do poder econômica, dos meios dê vida, e do controle do
maquinário de produção e distribuição, sem referência dos mestres
capitalistas."
Quando Eugene
Debs montou o palco ele disse: "Nós temos que juntar, ombro a ombro. Nós
sabemos que sem solidariedade nada é possível e com solidariedade nada é
impossível. Nós temos que afastar nossos preconceitos mesquinhos, nascidos de
diferenças do passado. Eu sou um daqueles que acreditam que se nós nos
juntarmos no verdadeiro espírito de classe dos trabalhadores, a maioria dessas
diferenças vão desaparecer."
O Industrial
Workers of the World, adotou uma constituição na reunião de Chicago, e o
preâmbulo dele deu uma descrição da nova organização, de uma forma bem
inspiradora:
"A classe
dos trabalhadores e a classe capitalista não tem nada em comum. Não pode haver
paz enquanto fome e miséria estão entre milhões, e os poucos que compõem a
classe empregadora tem todas as coisas boas da vida. Entre essas duas classes,
existe uma luta que tem que continuar, até os trabalhadores do mundo se
juntarem, tanto no campo político quanto no campo industrial, para tomar e
segurar tudo que eles produzem pelo seu trabalho, por uma organização da classe
dos trabalhadores sem afiliação com qualquer partido político burguês.
A acumulação de
riquezas e a centralização da gerência das indústrias em cada vez menos mãos,
torna os sindicatos organizados por ocupação ou ofício, incapaz de lidar com o
poder crescente da classe empregadora. Os sindicatos organizados por ofício
criam condições onde um conjunto de trabalhadores podem dificultar a vida de um
outro conjunto de trabalhadores, assim ajudando derrotar uns aos outros em
guerras salariais. Além disso, muitos sindicatos enganam os trabalhadores,
deixando eles acreditarem que tem interesses em comum com a classe capitalista.
Essas condições
podem ser mudadas e os interesses da classe dos trabalhadores levantados,
somente por uma organização formada de uma maneira, em que todos os membros de
uma indústria, ou toda a indústria se for preciso, parar de trabalhar quando
uma greve é chamada em um departamento. Tudo que for considerado uma injúria a
um, será uma injúria ao todo.
Ao invés do
ditado conservador, “Um justo pagamento diário para um justo dia de trabalho”,
nós temos que inscrever em nossa bandeira, o ditado revolucionário, “Abolir a
sistema assalariado.”
É a missão
histórica da classe dos trabalhadores acabar com capitalismo. O exército de
produção tem que ser organizado não somente para as lutas cotidianas contra
classe capitalista, mas também para continuar produção quando capitalismo for
derrubado. Organizando industrialmente, nós estamos criando a nova sociedade.”
O novo sindicato
criou muito otimismo e entusiasmo entre trabalhadores e cresceu rapidamente. De
Leon, um orador bem dotado, cruzou o país de trem, por conta do IWW, fazendo
palestras para multidões de trabalhadores bem entusiasmados com o sindicato. O
discurso feito em Minneapolis foi publicado sob o título, The Socialist
Reconstruction of Society, e inspirou trabalhadores mundialmente.
No dia 10 de
dezembro de 1905, Eugene Debs fez um discurso bem inspirador publicado sob o
título, Industrial Unionism. Durante esse tempo, Debs e De Leon, apesar
de serem membros de partidos socialistas rivais, agiram conjuntamente e
trabalharam juntos. Mas Debs logo saiu do IWW, infeliz com o elemento
anarquista dentro da organização. De Leon também teve seus debates com os
anarquistas dentro do IWW. Esse elemento quis largar a ação política e depender
totalmente de greves e ação direito para cumprir suas metas. De Leon e o SLP,
junto com a ala Revolucionária do Partido Socialista dos EUA, acharam a ação
política indisponível para prosseguir, sem trazer o poder coercivo do estado
capitalista por cima da organização, e para recrutar a massa suficiente de
trabalhadores conscientes de classe para possibilitar uma mudança
revolucionária. Esse debate durou três anos. O final desse debate foi conduzido
por uma correspondência iniciada por De Leon como editor de The People. Depois
foi publicado sob o título, As to Politics. O seguinte é um pedacinho da
contribuição de De Leon nesse debate. "O programa político do SLP exige a
rendição incondicional da classe capitalista. O SLP então prega a revolução,
ensina a revolução, e assim possibilita recrutar e organizar a força física
para realizar a revolução. O SLP faz tudo isso, pois ele assume a postura de
exigir da classe dominante o método civilizado de uma pacífica prova de força."
Foi um debate
muito interessante, mas o resultado foi que na convenção nacional da IWW em
1908, De Leon não foi sentado como delegado, as credenciais dele foram
rejeitadas.
O IWW já tinha
se espalhado no mundo. Tinha organizações no Canadá, Inglaterra, Escócia,
Irlanda, África do Sul, Nova Zelândia, e Austrália. Apesar dos avisos de De
Leon para os seguidores dele, o IWW rachou mundialmente. A organização
anarquista ficou conhecida como IWW de Chicago. A organização Marxista foi
conhecida como o IWW de Cleveland, depois adotou o nome, Workers Internacional
Industrial Union. Durou uns anos mas acabou desabando em 1921. O outro IWW
existe até hoje e em uma certa época teve presença na América Latina, na Cidade
México, Valparaíso, Santiago, Rio de Janeiro, e Buenos Aires.
De Leon morreu
em 1914 com 62 anos. Depois de De Leon, o partido continuou tentando espalhar
consciência de classe e o programa Socialista. O SLP apoio o Revolução Russa no
início, pensando na organização dos trabalhadores.
O SLP também
entendeu que socialismo não era possível sob as condições existente na Rússia
na época, como os Bolcheviques também entenderam. Mas o SLP apoiou a Oposição
Trabalhista, a facção dentro dos Bolcheviques que tentou se organizar para
botar as indústrias sob controle dos sindicatos. Entretanto, seus líderes, como
Sergi Medvedev foram executados durante o regime do Stalin. O SLP sempre
contrastou com o modelo de partido vanguarda Stalinista com seu programa de
Socialist Industrial Unionism, e controle das indústrias por uma uma democracia
direta.
Então, para
concluir, De Leonismo pôde ser pensado como uma forma de organização onde os
trabalhadores criam um grande sindicato industrial e um partido político, como
ferramentas na luta para tomar controle da economia, bota-la sob controle
democrático, para abolir o estado capitalista.
Além de De
Leonismo
Muitas pessoas
falam que é uma ideia legal, mas nunca chegou perto de se implementar. Isso não
podemos negar, mas vamos considerar uns ajustes para a programa De Leonista.
Imagine, se puder existir Socialist Industrial Union exatamente como De Leon
visualizou, agora imagina uma coisa um pouco mais ampla. Essa mesma organização
que os trabalhadores poderiam usar para se defender nas indústrias
capitalistas. Poderia também incluir os órgãos de gerência de cooperativas e
comunidades socialistas, uma organização exatamente como De Leon imaginou, mas
que vá além. Muitas vezes a polêmica é
colocada quê trabalhadores simples são mal equipados para competir com
capitalistas, sofisticados, cheios de grana, usando tecnologia avançada. Não
podemos negar, mas o Brasil está cheio de pessoas desesperadas, pessoas que
andam nas ruas batendo em portas pedindo trabalho, oferecendo fazer qualquer
coisa por pouco de dinheiro. Eu acho que não é tão difícil ajudar eles se
organizarem para produzir uma vida bem melhor do que eles já têm. Eles não são
preguiçosos e não são burros, com um pouco de organização, podemos criar uma
organização que irá levantar outros e agir politicamente, e espalhar sindicalismo
revolucionário tanto no ambiente de cooperativa e comunidades socialistas,
quanto nas indústrias capitalistas.
Com esse tipo de
pensamento, eu, junto com uns companheiros estamos montando um negócio
cooperativo em uma cidade pequena em Goiás. Nós escolhemos o nome Allianca
Socialista de Comércio e Trabalhismo, e nós também adotamos uma declaração dê
princípios.
A Aliança
Socialista de Comércio e Trabalhismo
Busca definir os
passos pelo que a classe dos trabalhadores pode agir para se livrar da
escravidão do capitalismo. Por isso, nós
criamos uma organização democrática para gerenciar produção coletiva, um
sindicato revolucionário.
Começando com um
único projeto, nos aspiramos ajudar trabalhadores a se organizarem em um sempre
crescente número de atividades produtivas, envolvendo uma combinação de
produção para mercados, e produção para consumo direto. Onde trabalhadores não
controlam sua própria produção, A Aliança Socialista de Comércio e Trabalhismo
busca organizar eles em uma luta de classe sindical.
- A Aliança
Socialista de Comércio e Trabalhismo se compromete produzir utilizando
tecnologia sustentável e com respeito para o meio ambiente. Nosso motivo para
produção não é lucro, mas para satisfazer as necessidades humanos de nossos
membros.
- A Aliança
Socialista de Comércio e Trabalhismo se opõe imperialismo e militarismo, e
expressa solidariedade com os trabalhadores do mundo.
- A Aliança
Socialista de comércio e Trabalhismo reconhece a importância de se organizar
politicamente para usar o governo em todos os níveis para avançar os projetos
da classe dos trabalhadores, mas com o objetivo final de capturar o corrupto
estado capitalista para aboli-lo, e instituir uma democracia industrial.
Texto por Scott Wallace, professor de matemática e física de segundo grau, aposentado. Nascido nos Estados Unidos e formado na universidade de Minnesota , ex torneiro mecânico, e membro da United Electrical Radio, da Machine Workers of America e da Teamsters Union, militou no Socialist Labour Party of America (SLP) de 1978- 1992 e foi candidato a deputado federal pelo SLP em 1980.
No Brasil, militou com o "Terra Trabalho e Liberdade", em Brasília em 2002, e ajudou organizar uma cooperativa em São Sebastião no DF, Cooperunao em 2002. Atualmente reside em Goiás.
1 Comentários
Achei parecido com a idéia dos Sovietes.
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