Apesar disso é preciso, como é de praxe dentro do trabalhismo brasileiro, fazer autocríticas. A vinda de Ciro Gomes trouxe, principalmente com as eleições de 2018 e a publicação do Projeto Nacional: O dever da esperança em 2020, novos militantes do PDT — ou que circundam o PDT — que não são muito bem trabalhistas, não tem dentro de si o mesmo ímpeto de Getúlio Vargas, João Goulart ou Leonel Brizola. Proponho nesse texto definir e criticar esse setor da sociedade que denomino de ciristas e em um próximo texto irei propor um modo de mobiliza-los politicamente.
Antes de tudo é preciso saber o perfil social do cirista. Seu grosso é uma camada da classe média ilustrada que influenciada — querendo ou não — pelo lavajatismo ou pela crise econômica produzida pelo Governo Dilma-Levy que se fizeram oposição ao petismo. Prova disso é a composição étnica, situação financeira e a escolaridade do eleitor de Ciro Gomes, um perfil mais branco, com média de 5 a 10 salários mínimos e com o maior nível de escolaridade. É um grupo despossuído de propriedade dos meios de produção, mas não é super-explorado, e é academicamente e teoricamente bem formado.
Também é preciso observar algo peculiar nessa militância que, mesmo tendo características discursivas de esquerda, se organiza por meios paralelos ao mecanismos clássicos de luta política. Ou seja, esses ciristas em seu grosso também estão distantes do PDT — ou qualquer outro partido político — , dos sindicatos e do movimento estudantil, preferindo se organizar em torno de grupos mais independentes. É, portanto, desorganizado politicamente porque não consegue e nem se mostra disposto em disputar e se organizar nas fileiras dos espaços combativos da sociedade — como a política partidária, os sindicatos, a UNE, a UBES e os movimentos sociais como o MST e o MTST.
Por fim, para traçar o cirista é preciso também mostrar que ele também se mostra como um udenista. Udenista porque ,contrário de Ciro Gomes, que faz uma crítica certeira de como a corrupção como modelo de governança política levou o Brasil à queda e ao retrocesso, o cirista esvazia essa crítica pautando um moralismo que vive papagaiando “e o Geddel Vieira”. Assim como a antiga UDN, esse sujeito tem nessa questão “[um]a visão de fundo autoritário, no sentido de identificar, nos valores morais dos homens públicos, a ‘explicação’ para o comportamento político”.
O cirista, pois, é definido como: uma classe média ilustrada, desorganizada e udenista. É claramente, uma contradição ao trabalhismo que é necessariamente organizado e rival histórico do udenismo— tanto o petista, tucano ou o original — e por isso é incapaz de conduzir como militância o PND de Ciro Gomes. Explico.
Sem organização a ação política é individual e, portanto, liberal. Com o udenismo o combate da corrupção se dá no campo moral que é individualista e, assim, liberal. O projeto político de Ciro Gomes, integrado nas reinvindicações trabalhistas, de Getúlio Vargas, Jango e Brizola, é essencialmente anti-liberal. Essa contradição evidente não é notada justamente porque o cirismo é a doença infantil do trabalhismo e não se percebe como essencialmente liberal e fraco diante aos desafios que o PND propõe.
É impossível imaginar o projeto do Ciro sair do papel sem que haja uma sociedade politizada e uma militância articulada nos espaços de combate político, uma vez que as elites rentistas já estão muito bem posicionadas no poder. Como articular uma reforma agrária profunda sem estar ligado ao Movimento dos Sem Terra? Como articular uma reforma urbana sem estar ligado ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto? Como articular uma reforma educacional sem estar ligado ao Movimento Estudantil? Bom, simples, não se articula.
Bibliografia:
Datafolha: Veja o perfil do eleitor de Ciro — 01/06/2022 — Poder — Folha (uol.com.br)
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